
Ele esteve presente desde o início, trabalhando incansavelmente. Viu e participou ativamente de cada etapa de crescimento da Rádio Sociedade, como um pai faz com um filho. Viveu momentos históricos e hilários também. Foram quase 60 anos em atividade, sem jamais reclamar. Um verdadeiro símbolo da empresa.
Ele já não está entre nós há 14 anos, mas é como se estivesse. Mesmo sem título, foi um verdadeiro embaixador da Rádio Sociedade de Feira de Santana, muito mais que um motorista e um técnico de externas, nas transmissões esportivas e outras fora de estúdio. Foi um profissional exemplar que, durante quase seis décadas, vestiu com orgulho a camisa da RS. Falando com exatidão, durante 58 anos, Amadeu de Jesus - Pitanga Roxa ou simplesmente Pitanga, esteve dia e noite na Sociedade de Feira.
Verdadeiro símbolo da emissora, ele era a Rádio Sociedade onde estivesse. Natural de Irará, muito jovem, veio para a cidade princesa já batizado de ‘Pitanga’, a fruta pela qual tinha verdadeira paixão quando era criança. Em 1952, começou a trabalhar com os frades Capuchinhos, também recém-chegados à cidade, transportando mercadorias do centro da cidade para a área onde os religiosos estavam se instalando, em uma garagem ao lado da Serraria Deus Dará, cedida pelo dono da Fazenda Deus Dará, Fraterno Eliziário.
Relatava Pitanga a história da emissora antes mesmo dela pertencer aos Capuchinhos, lembrando que tudo começou em 1960, quando Pedro Matos, fundador da empresa radiofônica, cedeu o horário das 18 às 19 horas para o programa “Um Terço Por Semana”, apresentado pelo frei Hermenegildo de Castorano e Manuel de Araújo Freitas. Pouco depois, a Ordem dos Frades Capuchinhos adquiriu a Rádio Sociedade de Feira, a Rádio Educadora de Santo Amaro da Purificação e a Rádio Emissora de Alagoinhas.
O transmissor original da RS de 250 watts, que ficava no bairro Queimadinha, foi substituído por um novo de 1 KW Onda Média e outro de igual potência de Onda Tropical, e todo o trabalho foi realizado pelo frei Hermenegildo com auxílio direto de Edval Souza e Pitanga. Posteriormente, já em 1966, houve a instalação do transmissor de 10 KW na Rua Rio Vermelho, bairro Subaé.
Amadeu Pitanga de Jesus, como ficou conhecido, que era a história viva da RS, contava, por exemplo, a curiosa ‘aventura’ vivida em 1960, quando o frei Hermenegildo resolveu adquirir o transmissor de 1KW em São Paulo, viajando ao lado de Edval Souza. Ele foi dirigindo um furgão Chevrolet ano 1945. Só existiam quatro desses veículos em Feira: “um da Padaria da Fé, um do Café São Paulo, outro do Café Tabajara e o nosso (Rádio Sociedade)”. A BR-116/Sul não era asfaltada e a viagem de ida durou 12 dias. Em São Paulo, o motor do furgão bateu e o dinheiro disponível não daria para a aquisição do transmissor, de um novo motor e ainda para as despesas de volta.
“Frei Hermenegildo conseguiu uma audiência com o governador de São Paulo, Ademar de Barros, que recebeu a comitiva baiana com absoluta atenção e doou 60 mil réis. Uma fortuna na época. Com esse dinheiro, ele comprou um motor zero na Mesbla, sobrando 30 mil réis. Em Santos, a Igreja dos Capuchinhos fez outra doação de 30 mil réis e o frade comprou o transmissor de 1KW pela metade do preço a ‘seu’ Itagibá, com uma condição: ‘a rádio mandaria um jegue para o neto dele, que não conhecia esse animal’. Assim foi feito. Logo que retornou a Feira, frei Hermenegildo embarcou o jegue para São Paulo”, contava Pitanga. O novo transmissor foi montado por Dario Nogueira (técnico), Pitanga e Edval Souza.
Mas ainda na viagem de volta de São Paulo, devido a uma forte cerração em Areal, na Serra de Petrópolis, a Polícia Rodoviária interrompeu o tráfego durante horas até a visibilidade ficar normal. “Edval e frei Hermenegildo dormiram no banco, eu me deitei na mala. Passada a cerração, a viagem foi reiniciada com Edval Souza dirigindo. A Polícia Rodoviária desconfiou de alguma coisa e mandou parar o furgão”. Um patrulheiro perguntou a Edval ‘o que é que você leva aí?’ e Edval, irônico, respondeu: ‘Veja você mesmo!’ Quando o patrulheiro abriu a mala, Pitanga pulou para fora, causando-lhe susto. Tudo explicado, só risos e o patrulheiro: ‘Boa viagem, baianos!’.
Amadeu Pitanga de Jesus foi um fiel e exemplar servidor da Rádio Sociedade de Feira, dela tratado como se trata de alguém que se ama, assim como cuidou da esposa, a professora Judite, e dos filhos Marcelo e Carla. Acordava às 3h30 da manhã, tomava banho frio e iniciava o dia de trabalho. Gostava de música romântica e forró, feijoada, uma branquinha e torcia pelo Bahia. Deixou a vida física aos 73 anos de idade, em 29 de setembro de 2010, mas permanece como um símbolo da emissora dos Capuchinhos.
Por Zadir Marques Porto
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