A pressão sobre o trabalho de Dorival Júnior atinge seu maior nível depois da goleada sofrida pela Seleção diante da Argentina por 4 a 1, na terça-feira, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, e o debate pela troca de comando na Seleção está aquecido dentro da CBF.
Técnico preferido do presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, para
assumir o cargo no início do atual ciclo, o italiano Carlo Ancelotti, do Real
Madrid, volta a ser uma sombra. Na cabeça dos dirigentes da CBF, a participação
de possíveis substitutos de Dorival no Mundial de Clubes, entre junho e julho,
provoca um dilema: quando deve ser tomada a decisão sobre a possível troca?
As atuações ruins da Seleção já haviam levado à mesa de Ednaldo
Rodrigues e seus pares a discussão sobre o futuro de todo o organograma do
departamento de futebol da CBF. O distanciamento físico e verbal do presidente
nos últimos dias escancarou uma relação que nunca foi próxima, mas agora se
tornou ainda mais fria.
Após os empates de novembro, contra Venezuela e Uruguai, a Data Fifa de
março despontou como decisiva na avaliação do trabalho de Dorival Júnior.
Ednaldo, por sua vez, priorizou questões políticas e marcou o pleito que
garantiu sua reeleição, no Rio de Janeiro, para a véspera do clássico com a
Argentina.
A atuação constrangedora e a derrota por 4 a 1 elevam ainda mais a
temperatura em uma realidade que já colocava em risco o emprego do treinador em
conversas pelos corredores da CBF nas últimas semanas. O presidente chegou a
Brasília para o jogo contra a Colômbia apenas na quinta-feira e na véspera para
o clássico contra a Argentina.
Enquanto a possível troca era pauta em cenário de celebração pela
vitória eleitoral, o ambiente de pressão e dúvidas pairava nos bastidores da
equipe nos jogos nas capitais do Brasil e da Argentina. Em entrevista, Ednaldo
verbalizou esse descolamento entre os ambientes do futebol e da política.
Reativo quando questionado sobre o futuro do trabalho de Dorival, o
presidente disse que “até então” a CBF respaldava a comissão técnica, isentando-se
de responsabilidade na fase ruim dentro de campo, com declaração similar à que
deu em outras oportunidades:
- Eu reitero, da parte da CBF, que tudo que é solicitado à
administração, na pessoa do seu presidente, é disponibilizado. Tudo. O que for
das melhores condições para os atletas, para a comissão técnica, enfim. Mas,
também, o que eu coloco é que o resultado em campo, esse a gente não tem
controle. Eu não tenho controle do resultado em campo
Ao sair do vestiário no Monumental de Núñez, Ednaldo se esquivou da
imprensa:
- Amanhã eu falo.
Candidatos podem adiar decisão
Nas conversas a respeito de uma mudança, nomes já foram cogitados, e
Carlo Ancelotti voltou à tona. A segurança política com um mandato que agora
vai até 2030 e a possibilidade de fim de ciclo do italiano no Real Madrid
indicam um cenário reaberto para Ednaldo em debates com seus pares mais
próximos, como Ricardo Lima, presidente da Federação Baiana, e Gustavo Oliveira
Vieira, da Federação do Espírito Santo.
O
Mundial de Clubes é o impeditivo para uma decisão imediata. Ancelotti tem
contrato até meados de 2026, mas a permanência em Madri é considerada
improvável após a competição de junho a julho deste ano nos Estados Unidos. O
italiano confessou a pessoas próximas desde a primeira investida que vê o
interesse brasileiro com bons olhos. Outro nome que ganha força como
alternativa é o de Filipe Luís, do Flamengo, que também estará no Mundial, bem
como treinadores com menor aprovação interna na CBF a esta altura, como Jorge
Jesus, do Al-Hilal, e Abel Ferreira, do Palmeiras.
Esta realidade abre a possibilidade de a decisão ser tomada após a Data
Fifa de junho, quando o Brasil encara o Equador, fora de casa, e o Paraguai,
como mandante. A sobrevida ao trabalho da comissão, por sua vez, não anula a
análise além dos resultados, em cima de uma performance vista como deficitária.
Abatimento toma conta do vestiário
O pós-jogo no Monumental de Núñez foi de desolação e abatimento nos
vestiários. A pressão que vem do Rio de Janeiro é de conhecimento de todos
desde o início da Data Fifa e causa um cenário de insegurança que ficou
evidente nas palavras de Dorival depois da goleada:
- É uma situação que foge ao meu comando - disse ao ser questionado se
sentia-se seguro no cargo.
- Pressão é sempre grande, eu tenho consciência de tudo o que
representa, de tudo o que vinha sendo desenvolvido - completou em outro momento
na entrevista coletiva.
Neste cenário de pressão extrema e bastidores em ebulição, a Seleção se
despede desta Data Fifa na quarta colocação nas eliminatórias, com 21 pontos,
assim como o Uruguai, terceiro, e o Paraguai, quinto. O elenco agora se reúne
somente em junho para enfrentar equatorianos e paraguaios.
Desde que Dorival Júnior assumiu o comando da equipe, em janeiro de
2024, a Seleção disputou 16 jogos, com sete vitórias, sete empates e duas
derrotas. Na Copa América do ano passado, foi eliminada pelo Uruguai nas
quartas de final.
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